quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vereadores denunciam que governo do estado abandonou o setor de saúde de Vitória do Jari

Falta de parceria entre o governo estadual e a prefeitura de Macapá não é novidade. Mas, agora, a discriminação chegou ao interior. Como o primo pobre do vale situado ao extremo sul do estado, o município de Vitória do Jari foi relegado ao segundo plano na gestão Camilo Capiberibe. Projetada para funcionar 24 horas, há seis meses a Unidade Mista de Saúde foi encampada pela administração estadual, mas está sem médicos e remédios e sua única ambulância, está quebrada. A 37 quilômetros de distância, Laranjal do Jari, ao contrário, terá repasses de R$ 13,5 milhões, segundo o site do governo do Estado.
O tratamento de dois pesos e duas medidas foi denunciado ontem (22) por seis dos nove vereadores de Vitória do Jari, que recorreram ao presidente da Assembleia Legislativa, Moisés Souza, para marcar uma audiência com o governador. Com enfoque para as deficiências da saúde pública, e ainda na educação e infraestrutura, uma pauta dos problemas foi entregue a Souza pelos vereadores. Cansados de protelações, eles querem solução imediata.
As reivindicações incluem: reforma da Unidade Mista de Saúde; contratação de médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem; aquisição de uma ambulância. Na educação: construção em alvenaria da Escola Estadual Teotônio Brandão Vilela; construção de quadras das Escolas Estaduais Munguba do Jari e Teotônio Brandão Vilela. Na infraestrutura: manutenção e reparos da estrada de 37 km, que liga Vitória do Jari a Laranjal do Jari; e construção de um matadouro municipal.
O documento é assinado pelos vereadores Alcides Frazão Silva (PSC), presidente da Câmara, Alekson da Câmara (PP), Alailson Marques (PSDB), Francisco Iamar Garçon (PSDB), Josinete Duarte Araújo (PSDB) e Marijunis Reis de Lima (PMDB), conhecido por "Salada".

Diplomacia
Mesmo indignado com a situação, o presidente da Câmara, Alcides Frazão Silva (PSC), expressou-se de forma diplomática. "Queremos que o governador Camilo se sensibilize e cumpra com o seu dever. Não viemos a Macapá para brigar, mas para buscar um direito da população de Vitória do Jari e cobrar do governador, que é o nosso maior gestor", enfatizou. Com a dispensa do ginecologista, ele disse que vários partos na cidade foram feitos pelas técnicas em enfermagem.
O vereador Salada foi mais contundente. "É um compromisso do governo o atendimento de emergência e urgência em nosso município, e já estamos cansados de ser enganados com falsas promessas", disse. Ele acrescentou que, como contrapartida, o prefeito de Vitória do Jari, Luiz Beirão (ex-PSDB, agora no PSD), cedeu para a Unidade Mista de Saúde: 10 técnicos em enfermagem, dois motoristas, três serventes, dois vigilantes, além de uma voadeira e parte do combustível.

Unidade Mista é um prédio fantasma
“À noite a unidade parece um prédio fantasma”, disse o vereador Alekson, acrescentando que apenas uma sala do estabelecimento está funcionando. “Na Unidade Mista de Saúde não há atividade regular de limpeza, a sala de pré-parto está sem energia e apenas duas funcionárias trabalham no turno da manhã, mas não esterilizam os materiais por falta de estrutura”, resumiu.
A situação de abandono foi confirmada pelo presidente do Sindicato de Enfermagem e Trabalhadores de Saúde do Amapá (Sindesaúde), Dorinaldo Malafaia. Em visita à Unidade Mista do município, ele encontrou lençóis sujos de sangue e balões de oxigênio vazios. “A estrutura física é boa, com várias salas de atendimento. Tem consultório, material de ultrassonografia, máquina de raio-X, mas não tem funcionários”, resumiu.

Governador prometeu, mas não cumpriu
Sem médicos ou ambulância, o único remédio para os doentes de Vitória do Jari é empreender uma verdadeira epopéia rumo ao município vizinho. Com a estrada intrafegável, os pacientes têm que se deslocar de táxi ou num Fiat Uno por dois quilômetros até o trapiche, de onde atravessam o Rio Jari de voadeira até o porto de Munguba. De lá, percorrem 30 km em estrada de chão até o porto de Monte Dourado, no município de Almeirim (PA). Só então, em nova travessia de catraia, chegam a Laranjal do Jari.
A busca por atendimento médico demora, em média, 45 minutos, e custa em torno de R$ 30, que pode parecer uma quantia irrisória, mas pesa no bolso dos moradores de Vitória do Jari, com 12 mil habitantes. Nada disso seria necessário se o governador Camilo tivesse cumprido o que ficou acertado em uma reunião com os vereadores, ocorrida em maio.
“Na ocasião, o governador disse que éramos vereadores privilegiados, os primeiros do Amapá a se reunir diretamente com o alto escalão do Executivo”, contou o vereador Alekson da Câmara. “Ele se comprometeu com a mesma pauta das demandas, mas passados seis meses, apenas o problema da água tratada e o fornecimento de energia foi, parcialmente, resolvido”, acrescentou.
O vereador Salada lembrou que Camilo e o secretário de Estado de Saúde, Edilson Pereira, se comprometeram em fazer contratação emergencial de médicos e enfermeiros, comprar medicamentos e reformar a Unidade Mista de Saúde do município. Nada foi feito. “O governador Camilo está nos discriminando, pois enquanto Laranjal do Jari vai receber uma ambulância nova, o secretário de Saúde disse que vai enviar para Vitória do Jari um veículo reformado, e isso não podemos aceitar”, frisou.


Fonte: Jornal A Gazeta

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